terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cores da tua cor

És a mistura entre breus e claridades
De todas tardes
Peles envernizadas de sol

Entre

Tantas tintas rabisco de luz
Cortes da mesma cor
Clarões sob pálpebras

Enquanto

Teu gesto pequeno
Meus outros olhares
Serena ao me devorares
Respiro perfumes
Ares
Caminhas em calçadas
Antigas

Somos

Pedaços de rua
Cirandas novas como cantigas

E

Da tua voz baixa e tímida
Do embaraço dos teus sons
Teu olhar é repouso da manhã

Assim

Teus
Temas
E tons
É do teu silêncio que gosto

Estamos

Entre o intervalo do teu
E o meu espaço

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Outras de mim


Você acaba de bater a porta. Junto do seu cheiro também se desfaz sua imagem. Seus passos abandonados marcando o chão do corredor. Desce as escadas, quem sabe, por causa da pressa do arrependimento. Um vazio me corta o corpo. Seu abandono diário, sua renúncia noturna ao esmurrar a mesma porta que, carinhosamente nos dias seguintes, a afaga com as mãos onde repousaram minha cabeça. E meu passado.


Quando você sai, fecho os olhos e acompanho com meus ouvidos sua respiração no eco do corredor. O barulho do telefone sendo novamente ligado, sua voz muda ao desculpar-se com ela, e chego a rir de boba que sou, quando me dou conta que já perdia a conta de quantas vezes minha casa era, para ela, a casa de algum amigo seu. Você já fez pior, já me tirou da sua cama quando ela estava a chegar à sua casa, quando fui enxotada, às gargalhadas, para seu desespero, pelas portas dos fundos. É assim que vivemos, pelos fundos, por debaixo, por fora. Por enquanto.


Então é a hora que me vejo livre do que fomos, quando busco força na minha solidão antiga e passo a perceber que quando estou contigo não sou quem preciso ser. Você me fere, me faz mal, me acorda de madrugada, me faz dormir pela manhã, me assalta os sentidos e, não, você não me faz mulher, você me faz uma menina assustada que faz do seu peito meu repouso. Mas não um lar.


Gosto quando você come minha comida. Gosto quando sou sua comida. Você é tudo que eu mais gosto, mas tudo que mais gosto não gosta de mim, então agora que você bate a porta, aproveito para desfazer meus sonhos e embrulhar meu coração surrado. Suas malas estão prontas. Você aqui não existe mais, mesmo que surjam outras de mim.