segunda-feira, 20 de junho de 2011

As janelas do mar

E daí se eu perceber que até aqui não dava pé mesmo? Porque mesmo que prendesse a respiração e mergulhasse lá no fundo, não alcançaria nenhum tesouro do naufrágio. As algas pairando sob a turbidez de águas que já passaram. Cortinas fechadas.

Mesmo que me embalasse nas canções mais antigas, e até finjo que as sei cantar, quando tento sincronizar meus lábios mudos nos versos da canção, para dar impressão de que conheço o refrão de cor, entoando alto as vogais do fim de cada frase, na hora das consoantes recorro ao longo gole de vinho. Algumas pessoas chatas sempre surgem lá, à lembrança, ao corredor. As aspas pairando sob a sordidez de ventos que já sopraram. Janelas abertas.

Todos nos sentimos sozinhos nas escolhas. Por mais simples que sejam. Mas lembrei de minha tia: minha filha, nenhuma escolha é fácil; Fosse, não se chamaria assim. Talvez dessem o nome de sorte. E logo me veio à memória o garoto que pregou aquela peça em Santo Agostinho. Colocar toda água do mar num buraco cavado na areia. "Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria."

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mudanças

Recortar a memória
Peneirar os pedacinhos da lembrança
Que ainda ele me traz
Escrevo porque me divido nas palavras
E porque das palavras me multiplico
Sou múltipla de mim

Quanto mais desato a criar poesia: crio-me
Ainda sentada à beira do lago
No balanço constante das árvores à beira-sonho
Espelho d´água não reflete quem sou
As mudanças são os pedacinhos que não passaram
Pela peneira de mim: tanto frio me envolve
Que me abraço só
Minhas mãos sobre meus ombros numa inversão calorosa
Quando as mãos envolvem os ombros opostos
Giro o pescoço

Meus olhos transformam a direção do que procuram
Estou só aqui dentro de mim
Nada muda
Sou de andar descalça pelo mundo