segunda-feira, 20 de junho de 2011

As janelas do mar

E daí se eu perceber que até aqui não dava pé mesmo? Porque mesmo que prendesse a respiração e mergulhasse lá no fundo, não alcançaria nenhum tesouro do naufrágio. As algas pairando sob a turbidez de águas que já passaram. Cortinas fechadas.

Mesmo que me embalasse nas canções mais antigas, e até finjo que as sei cantar, quando tento sincronizar meus lábios mudos nos versos da canção, para dar impressão de que conheço o refrão de cor, entoando alto as vogais do fim de cada frase, na hora das consoantes recorro ao longo gole de vinho. Algumas pessoas chatas sempre surgem lá, à lembrança, ao corredor. As aspas pairando sob a sordidez de ventos que já sopraram. Janelas abertas.

Todos nos sentimos sozinhos nas escolhas. Por mais simples que sejam. Mas lembrei de minha tia: minha filha, nenhuma escolha é fácil; Fosse, não se chamaria assim. Talvez dessem o nome de sorte. E logo me veio à memória o garoto que pregou aquela peça em Santo Agostinho. Colocar toda água do mar num buraco cavado na areia. "Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria."