domingo, 11 de julho de 2010

A última vez que te vi

E fui ao terraço acender meu penúltimo cigarro. E você subiu com sua violência costumeira, marcando com força cada degrau das escadas da casa. E eu procurava os fósforos nos bolsos da calça. E a noite estava clara. E a porta caiu sobre o chão do terraço, você voltando a me xingar e me expulsar da tua vida. Meu choro burro, minha tristeza lenta. E você a me estapear a cara com suas palavras afiadas e covardes. Meus tragos não traziam fumaça, traziam lembranças. Teus gritos não me traziam dor. Os degraus da casa são os degraus da casa. Tua escada é outra.

E desci.


Tiveste raiva quando disse que te amava. Minha voz rouca e amarela inundou o quarto. Afoguei-me. Seus pés grossos me raspando as coxas, me expulsando da cama. Meu susto ao ver que eu te amava. Meu susto ao ver que eu te amava, mas você não. Meu susto ao ver que eu te amava, mas você não e eu não me importar. Meu susto ao ver que eu te amava, mas você não, eu não me importar, mas você, sim, e me xingar, me bater com berros e me castigar com suas mãos e dentes. Minha vontade de mulher ao descer ladeira abaixo e me sentir vulnerável, depois do susto em te amar com toda minha força - e te odiar com toda minha fraqueza. É aí que finjo me saber menos para ser tua.


Tiveste mais raiva quando gargalhei nervosa de seus sussurros de prazer, ao referir-se a mim como a outra, ao pensar na outra para pensar em mim, pois és mais homem comigo, sei, sabes, porque és mais dela quando estás em meus braços, exausto, pequenino, indefeso, mas inteiro. És meu. E me senti a mulher mais amada do mundo: tua.

Um comentário:

  1. Esse amor árduo me parece uma paixão palpitante. E como todas, passará, deixando apenas lembranças das sensações profundas e confusas.

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