segunda-feira, 20 de junho de 2011

As janelas do mar

E daí se eu perceber que até aqui não dava pé mesmo? Porque mesmo que prendesse a respiração e mergulhasse lá no fundo, não alcançaria nenhum tesouro do naufrágio. As algas pairando sob a turbidez de águas que já passaram. Cortinas fechadas.

Mesmo que me embalasse nas canções mais antigas, e até finjo que as sei cantar, quando tento sincronizar meus lábios mudos nos versos da canção, para dar impressão de que conheço o refrão de cor, entoando alto as vogais do fim de cada frase, na hora das consoantes recorro ao longo gole de vinho. Algumas pessoas chatas sempre surgem lá, à lembrança, ao corredor. As aspas pairando sob a sordidez de ventos que já sopraram. Janelas abertas.

Todos nos sentimos sozinhos nas escolhas. Por mais simples que sejam. Mas lembrei de minha tia: minha filha, nenhuma escolha é fácil; Fosse, não se chamaria assim. Talvez dessem o nome de sorte. E logo me veio à memória o garoto que pregou aquela peça em Santo Agostinho. Colocar toda água do mar num buraco cavado na areia. "Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria."

2 comentários:

  1. Olá,
    Linda a forma que escreves, de fato toca no coração da gente.
    Bjos

    http://baralhociganoencantamentoevida.blogspot.com.br/

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  2. "e até finjo que as sei cantar, quando tento sincronizar meus lábios mudos nos versos da canção, para dar impressão de que conheço o refrão de cor, entoando alto as vogais do fim de cada frase,"

    ***** SPECIAL RESERVE *****

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